14 Mar 2009

Por dobrões nunca dantes conquistados




Ser tuga é uma arte com mais de quinhentos anos.
Ora veja:

Os navios que rumavam a Lisboa estavam sempre sobrecarregados por causa das cargas das próprias tripulações, quer na forma de “caixas” oficiais quer em contrabando.
Devido aos salários muito baixos, esta era a única maneira de fazer com que a viagem perigosa valesse a pena.

A incompetência a todos os níveis pode também ter responsabilidades.
Em Portugal a missão de capitanear um navio era atribuída como favor real aos membros da alta realeza. Saber distinguir a proa da popa não fazia parte dos requisitos.
Como resultado, a tarefa de manobrar ficava entregue ao piloto. Imagine-se o que acontecia quando o capitão e o piloto discordavam.
As praias desde Moçambique à Madeira tiveram o seu quinhão de pimenta.

Numa reunião realizada no palácio do vice-rei de Goa em 1643, as autoridades locais ficaram a saber que, em Portugal não havia um único piloto qualificado para manobrar um navio para a Índia, uma vez que todos os que tinham experiência adequada (todos os dez) estavam presos em Goa por causa do bloqueio holandês.

Fazendo eco das baixas expectativas dos locais, Linschoten refere que quando um vice-rei chega a Goa para iniciar a sua comissão de três anos, passa o primeiro a remodelar, o segundo a acumular a maior quantidade possível de dinheiro e o terceiro a apagar o seu rasto.*


Não é preciso muita imaginação para perceber que hoje só não é igual, porque é pior

* O Sabor da Conquista ISBN 978-972-44-1441-6

No comments: