Um filme que não deixa ninguém indiferente.
Numa Irlanda paupérrima, e onde a religião, no caso a cristã, se impõe de uma forma assustadora uma família tenta sobreviver no meio da imundice, da doença e também da própria contradição humana, onde o pai prefere gastar o raro dinheiro que ganha numas cervejas no pub local de onde sai perdido de bêbedo do que lembrar-se de comprar leite para o recém-nascido.
Não admira que nem todos os filhos consigam sobreviver, mas mesmo assim e em nome dos deveres conjugais ela (Emily Watson como sempre perfeita) lá os vai parindo.
Os ingleses em filmes de época são mestres e Alan Parker também o é nas várias e boas obras que já assinou.
Aqui o que mais admira é pensarmos que estamos perante actores.
O desempenho é tão real e as cenas tão pungentes de dor, miséria e raiva que mais se diria que contam a própria história.
Raramente um poster ilustra tão bem o filme.
6 comments:
Vi o filme e concordo com a sua opinião.
Muito obrigado.
Quando acabei de o ver pensei como é que é possível que se consiga viver no meio de tanta imundície física e moral e mesmo assim manter uma nesga de ser humano.
É a lei da sobrevivência, penso.
Uma das coisas que mais me custou foi ver pedir e quanto lhe custava terem de se humilhar para conseguirem obter qualquer coisinha. Deve ser horrível.
A cena em que lhes é dada uma cabeça (de borrego, talvez) para a cozinharem como ceia de Natal, esse natal onde o pai aparece das brumas de Londres é arrepiante.
Todo o filme o é, aliás.
E o pior é que aquilo continua e continuará a acontecer.
A crueledade está em sabermos que "aquilo continua e continuará a acontecer".
Não tenho parametros comparativos no que diz respeito a este sentir, a este viver e também por issso os arrepios e a indignação que senti ao longo do filme.
*crueldade
É isso, exactamente.
É o horror de pensarmos que podia ter sido aquela a nossa vida.
O meio faz as pessoas, alguns conseguem escapar à desgraça e outros afundam-se nela quando tinham tudo para serem felizes, mas são as excepções que confirmam a negra regra.
PS. Porque é que não abre um blog?
Tem certamente muitas histórias que se compartilhadas aumentariam a riqueza das nossas vidas.
O Fado é um verdadeiro gentleman
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