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23 Jul 2009
Helena Matos
Por ser um documento que exemplarmente ilustra as múltiplas aplicações do plástico em política e devido ao seu tamanho, nos comentários insere-se o texto de hoje (23-07-09)no Público da jornalista.
2 comments:
Anonymous
said...
Setembro a Dezembro de 2004 - José Sócrates torna-se secretário-geral do PS. Para trás ficam Manuel Alegre e João Soares. Sócrates foi líder da oposição dois meses e alguns dias, pois, a 1 de Dezembro, Jorge Sampaio dissolve a Assembleia da República. Teria José Sócrates aguentado anos como líder da oposição, caso Sampaio não tivesse considerado que a demissão do ministro do Desporto punha em causa o regular funcionamento das instituições? Das especulações não reza a História, mas António José Seguro e Vitalino Canas, que tinham desistido de se candidatar à liderança do PS, certamente concluíram que em política a sorte é muito importante. Março de 2005 - Toma posse o Governo de Sócrates. Na apresentação do programa do Governo, o chefe do executivo declara que serão investidos mais de 20 mil milhões de euros em áreas que considera vitais para o país. Anunciou a redução das férias judiciais, o documento único automóvel, o cartão de cidadão e uma "via rápida" para o licenciamento de projectos fundamentais. Assumiu ir referendar o aborto e declarou que pretendia que o governador do Banco de Portugal apurasse não só o défice de 2004 - "que sabemos ser bem superior a cinco por cento em termos reais" -, mas também a "verdadeira situação das contas públicas que este Governo encontra". Ninguém se interroga sobre o condicionamento que estas declarações implicam para Vítor Constâncio, pois dificilmente este poderia, a partir desse momento, produzir um relatório que contrariasse este saber antecipado do primeiro-ministro. Março a Maio de 2005 - A maior parte das notícias sobre o Governo pareciam transcrições das conversas entusiásticas dos assessores governamentais. Sócrates passa um dia em Helsínquia e a todos parece naturalíssimo que, apesar da brevidade da visita, declare ser a Finlândia o país inspirador "para a agenda de reformas internas que está apostado em levar a cabo". Entre essas reformas conta-se o Inglês no ensino básico e o "choque tecnológico" que levaria o Governo a anunciar ir colocar mil novos licenciados em Gestão e Economia em pequenas e médias empresas.
Fica-se também a saber que "uma das primeiras prioridades" do executivo era a criação de uma base de dados com perfil genético de todos os cidadãos; que os presidentes das comissões de coordenação das comissões regionais (CCDR) voltam a ser nomeados apenas pelo Governo e que o IVA vai aumentar de 19 para 21 por cento para assegurar o financiamento da Segurança Social. Umas declarações do então ministro da Saúde, Correia de Campos, a defender a subida das taxas moderadoras nos casos de falsas urgências são apenas um fait-divers neste verdadeiro estado de graça do primeiro-ministro e até a nomeação de Fernando Gomes para a Galp ainda é entendida como uma cedência inevitável a um boy: mal por mal antes na Galp do que no Governo a atrapalhar um primeiro-ministro tão empenhado em fazer as reformas tão difíceis que o país precisa, terão pensado muitos portugueses e não exclusivamente os eleitores do PS. Junho de 2005 - Os trabalhadores da função pública fizeram uma manifestação, mas as revelações sobre o número de funcionários públicos destacados nos sindicatos - só professores eram 1100 - são suficientes para que "a rua" não inquiete o primeiro-ministro. As preocupações nascem sim com acidentes de percurso: o Diário Económico descobre erros nas contas do orçamento rectificativo apresentado pelo ministro Campos e Cunha. E entre os socialistas há quem ache que os portugueses precisam de boas notícias, após tanta pressão sobre a necessidade do controlo da despesa. O DN até explica que dada a fraca presença de Manuel Pinho nos media foi elaborado um calendário político com o anúncio sistemático de medidas positivas do Estado, que nesta fase se confunde com o Governo. E todos os dias havia boas notícias: "José Sócrates atribui prioridade à Ota, TGV, CRIL e auto-estrada até Bragança"; "Ao todo serão lançados cerca de 200 projectos em Portugal no espaço de quatro anos"; "Governo: programa hoje apresentado prevê 120 mil novos postos de trabalho"; "25 mil milhões para relançar a economia" - são alguns dos títulos que por então garantem que Sócrates certamente sabe o que faz. Julho de 2005 - Luís Campos e Cunha deixa o Governo. Cansaço e razões pessoais serão a explicação oficial para esta saída. Na verdade, o que estava em causa eram as opções para o investimento público e a escolha de Armando Vara para a liderança da CGD. Noutro contexto, esta saída teria abalado a confiança no primeiro-ministro. Mas no Verão de 2005 os portugueses precisam de acreditar que têm no Governo o homem que lhes garante que podem ir sossegados para férias e o PS acredita que encontrou o líder que Guterres não conseguiu ser. (continua)
2 comments:
Setembro a Dezembro de 2004 - José Sócrates torna-se secretário-geral do PS. Para trás ficam Manuel Alegre e João Soares. Sócrates foi líder da oposição dois meses e alguns dias, pois, a 1 de Dezembro, Jorge Sampaio dissolve a Assembleia da República. Teria José Sócrates aguentado anos como líder da oposição, caso Sampaio não tivesse considerado que a demissão do ministro do Desporto punha em causa o regular funcionamento das instituições? Das especulações não reza a História, mas António José Seguro e Vitalino Canas, que tinham desistido de se candidatar à liderança do PS, certamente concluíram que em política a sorte é muito importante.
Março de 2005 - Toma posse o Governo de Sócrates. Na apresentação do programa do Governo, o chefe do executivo declara que serão investidos mais de 20 mil milhões de euros em áreas que considera vitais para o país. Anunciou a redução das férias judiciais, o documento único automóvel, o cartão de cidadão e uma "via rápida" para o licenciamento de projectos fundamentais. Assumiu ir referendar o aborto e declarou que pretendia que o governador do Banco de Portugal apurasse não só o défice de 2004 - "que sabemos ser bem superior a cinco por cento em termos reais" -, mas também a "verdadeira situação das contas públicas que este Governo encontra". Ninguém se interroga sobre o condicionamento que estas declarações implicam para Vítor Constâncio, pois dificilmente este poderia, a partir desse momento, produzir um relatório que contrariasse este saber antecipado do primeiro-ministro.
Março a Maio de 2005 - A maior parte das notícias sobre o Governo pareciam transcrições das conversas entusiásticas dos assessores governamentais. Sócrates passa um dia em Helsínquia e a todos parece naturalíssimo que, apesar da brevidade da visita, declare ser a Finlândia o país inspirador "para a agenda de reformas internas que está apostado em levar a cabo". Entre essas reformas conta-se o Inglês no ensino básico e o "choque tecnológico" que levaria o Governo a anunciar ir colocar mil novos licenciados em Gestão e Economia em pequenas e médias empresas.
Fica-se também a saber que "uma das primeiras prioridades" do executivo era a criação de uma base de dados com perfil genético de todos os cidadãos; que os presidentes das comissões de coordenação das comissões regionais (CCDR) voltam a ser nomeados apenas pelo Governo e que o IVA vai aumentar de 19 para 21 por cento para assegurar o financiamento da Segurança Social.
Umas declarações do então ministro da Saúde, Correia de Campos, a defender a subida das taxas moderadoras nos casos de falsas urgências são apenas um fait-divers neste verdadeiro estado de graça do primeiro-ministro e até a nomeação de Fernando Gomes para a Galp ainda é entendida como uma cedência inevitável a um boy: mal por mal antes na Galp do que no Governo a atrapalhar um primeiro-ministro tão empenhado em fazer as reformas tão difíceis que o país precisa, terão pensado muitos portugueses e não exclusivamente os eleitores do PS.
Junho de 2005 - Os trabalhadores da função pública fizeram uma manifestação, mas as revelações sobre o número de funcionários públicos destacados nos sindicatos - só professores eram 1100 - são suficientes para que "a rua" não inquiete o primeiro-ministro. As preocupações nascem sim com acidentes de percurso: o Diário Económico descobre erros nas contas do orçamento rectificativo apresentado pelo ministro Campos e Cunha. E entre os socialistas há quem ache que os portugueses precisam de boas notícias, após tanta pressão sobre a necessidade do controlo da despesa. O DN até explica que dada a fraca presença de Manuel Pinho nos media foi elaborado um calendário político com o anúncio sistemático de medidas positivas do Estado, que nesta fase se confunde com o Governo. E todos os dias havia boas notícias: "José Sócrates atribui prioridade à Ota, TGV, CRIL e auto-estrada até Bragança"; "Ao todo serão lançados cerca de 200 projectos em Portugal no espaço de quatro anos"; "Governo: programa hoje apresentado prevê 120 mil novos postos de trabalho"; "25 mil milhões para relançar a economia" - são alguns dos títulos que por então garantem que Sócrates certamente sabe o que faz.
Julho de 2005 - Luís Campos e Cunha deixa o Governo. Cansaço e razões pessoais serão a explicação oficial para esta saída. Na verdade, o que estava em causa eram as opções para o investimento público e a escolha de Armando Vara para a liderança da CGD. Noutro contexto, esta saída teria abalado a confiança no primeiro-ministro. Mas no Verão de 2005 os portugueses precisam de acreditar que têm no Governo o homem que lhes garante que podem ir sossegados para férias e o PS acredita que encontrou o líder que Guterres não conseguiu ser. (continua)
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