2 Jul 2011

Sem paninhos quentes



Outra portentosa obra de Mike Leigh.
Chega a ser exasperante como ele consegue arrancar interpretações tão humanas que por vezes nos apetece entrar dentro do filme e dar um belo safanão nalguns deles.
E assim consegue críticas espantosas de pessoas que nunca perceberam nada de cinema como segue:

I was really looking forward to seeing this film. I love thoughtful cinema, however the images of Ruth Sheen and the other old hags made me want to throw up.
I know brits are not known for their attractiveness (or dentistry) certainly you could have found two less hideous characters for the screen. If I wanted to watch trolls I'd rent Lord of the Rings.
A história é banal e por isso muito bem contada.
Um casal que se dá excepcionalmente bem ao fim de quarenta anos de matrimónio cultiva uma pequeníssima quinta arrendada nos subúrbios de Londres e o filme (daí o título) atravessa as quatro estações.

Quem também atravessa mas no filme são uma série de personagens amigos do casal a maioria muito atormentada por azares de vida e de amor já na fase de descrença em que algo de bom possa vir a modificar o plano inclinado em que se sentem.
Valerá a pena
Mais um nascer de dia
na certeza ingrata
de pensar
que mais um dia
não é mais um tempo
que desfia o tempo
que falta acabar

Um dia é só uma fatia
da vida por abraçar

Viver é um verbo inconstante
Viver é nada esperar

É quase um crime destacar aqui alguém mas Lesley Manville (no fotograma) arranca uma interpretação a roçar a histeria de uma divorciada azeda procurando desesperadamente ainda um pequeno carinho e que inconscientemente ao julgar tê-lo encontrado sofre mais um rombo no frágil casco do seu equilibrio.
Não percam.

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