17 Aug 2012

A arte de montar

O cinema português não vale um pataco, não tem argumentos bons com sangue, suor, lágrimas e muito sexo.
É isto que vende.
Às vezes basta ir a vidas reais para copiando e modificando um bocadinho se arranjar um grande folhetim.
Vamos a um exemplo retirado de uma popular revista de que não se diz o nome para não fazer publicidade de borla mas que tem a ver com aquele aforismo “Fiat Lux”.


Teresa Moreira é empresária, tem 41 anos, casou com um colega brasileira na Faculdade por onde passou, não deu então juntou-se com um senhor não se tendo casado porque ainda estava casada e disso nasceu a Carlota, também não deu e agora casou-se com um médico estomatologista conforme se pode ver pela linda dentadura que ostenta.
Vai avisando:

“Se tiver que me separar, separo-me. Se tiver de me casar 20 vezes caso-me sempre a pensar no meu bem-estar e no bem-estar da minha filha”.

Para filme não está mal mas temos mais alguns apontamentos, por exemplo:

“A minha filha Carlota foi o maior presente que recebi na vida. Eu nunca fui ligada a nada. Eu não tento que a Carlota me conquiste, eu tento conquistar a Carlota todos os dias. E aprendo todos os dias com ela. Vejo que ela é muito vaidosa mas não exageradamente. Tento dizer-lhe que vida é difícil. É uma menina que vive num meio privilegiado mas que sabe que há outros meios. Levo-a à igreja para dar roupa aos mais necessitados. Ela pergunta-me “Mamã, toda a gente tem piscina em casa’” e eu tenho que lhe explicar que não.”

Como queremos atingir o grande público, vamos meter uma bucha sobre coboiadas.

“Temos (com a Carlota nota do argumentista) outra coisa em comum que é a equitação. Desde os sete meses, ainda não andava, que ela faz equitação. Qualquer dia vou fazer uma coisa qualquer no facebook sobre isto.”

E como bom cinema, uma alfinetadela à televisão:

“ Em minha casa não vemos televisão. Não sei o título de nenhuma telenovela, até porque é tão triste ver a televisão portuguesa”.

Senhores realizadores não chega?
Então tomem lá mais este naco:

“O Zé António (podem mudar o nome para coisa mais apelativa) estava separado há onze anos e a ex-mulher e as filhas fazem-me  a vida negra”.

Podem terminar com um crime passional.
Se isto não é um tesouro de esboço de argumento não sei que mais vos dar.

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