15 Feb 2015

A hipocrisia como lei

Entre 13 e 15 de Fevereiro de 1945 os Aliados arrasaram por completo a cidade de Dresden, numa manifestação de poder que se traduziria meses mais tarde pela derrota da Alemanha.
Ainda hoje se discute (como se discute o lançamento da bomba atómica sobre o Japão) se este acto foi um acto de guerra ou uma atrocidade.
Numa recente reportagem uma alemã, sobrevivente, interrogava-se "porque é que nos fizeram isto".
Antes de dar a minha opinião vamos ler o que hoje Azeredo Lopes escreve no Jornal de Notícias

Brennus bem o sabia quando impôs a regra aos romanos. Numa guerra e noutras coisas da vida, vae victis, ai dos vencidos! Talvez isso explique por que motivo no imediato pós-segunda guerra mundial, ninguém insistiu excessivamente no que teria levado ao bombardeamento tão impiedoso e desproporcional de uma cidade. Desde então, no entanto, Dresden transformou-se num símbolo do extremo a que pode ser levada a violência e as consequências que produz.
Nos nossos dias, mal veria como poderia sequer admitir-se a necessidade militar daquele ataque, com aquela brutalidade exemplar. É verdade que ainda hoje circulam as teorias mais díspares. O ataque teria sido pedido pelos soviéticos, para travar e eliminar reforços alemães que se preparavam para resistir na frente leste. O ataque teria sido uma demonstração de força perante Estaline, alguns dias depois de (mal) concluída a conferência de Ialta. O ataque teria sido motivado por isto, o ataque teria sido justificado por aquilo.
Hoje, repito, pela desproporção, pelos meios usados (bombas de fragmentação, bombas incendiárias), pelo caráter indiscriminado - que nunca permitiria distinguir combatentes de não combatentes - o bombardeamento de Dresden teria, em qualquer caso, de ser qualificado como criminoso: foi um grave crime de guerra 

A alemã sobrevivente não se preocupava com nada disto entre 1939-1944 enquanto as tropas Nazis destroçavam uma Europa de lés a lés, nem mesmo quando milhares de bombas caiam sobre as indefesas cidades que os Nazis iam conquistados e muito menos estava preocupada com os londrinos que ouviam o assobiar das V1 e V2 que caíam indiscriminadamente sobre o que quer que fosse.
Provavelmente até se entusiasmava (era natural)  com as conquistas do seu exército onde certamente tinha familiares.
O que leva à frase do cronista "que nunca permitiria distinguir combatentes de não combatentes ".
Esta distinção nunca é possível de fazer.
Não é só combatente aquele que anda com um espingarda na mão.
Também o é aquele que fabrica a espingarda.
E mesmo aquele que em tempo de guerra fabrica o pão.
Resumindo:
A Alemanha Nazi usou de todos os olhos e dentes que tinha para esmagar, é natural que depois tenha recebido a lição "olho por olho, dente por dente".
A alemã sobrevivente devia ter-se lembrado disto no justo tempo.
Ela e milhares podiam ter evitado este bombardeamento.
Não o fizeram.
Muito pelo contrário pediram-no.



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