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19 Sept 2007
Há coisas fantásticas...
...não há?
6 comments:
Anonymous
said...
Caro Fado, Depois deste seu post fui consultar o Professor Medina (Medina, J., & al. (2004). A Monarquia Constitucional (I), A República (II). In J. Medina & al. (Eds.), História de Portugal - Dos Tempos Pré-Históricos aos Nossos Dias (Vol. XII, pp. 5-478). Lisboa: SAPE, Edita Clube ) e retirei isto: p. 42 "Ao voltar Mouzinho de Albuquerque, aureolado das glórias africanas de ter prendido o chefe rebelde Gungunhana, um jovem jornalista perguntava em 1896: «Que significa este homem?» E respondia: «Este homem significa tudo quanto é atraso, violação de direitos, espírito de opressão, conservantismo da iniqüidade, reacção do absurdo. Este homem é a Guerra, num dos seus aspectos mais odiosos a Conquista». (Palavras dum jovem anarco-repu-blicano chamado Francisco Mayer Garção, que mais tarde escreveria textos justificando a intervenção de Portugal para defender as suas colônias em África). E o texto lembrava ainda que os Portugueses que saudavam o herói africano se deviam precatar: «Não nos enganemos, pois. O militar que aí vem de dominar o negro fica à bica para subjugar o cidadão» ('^). O destino ulterior de Portugal
p.43 estava de algum modo encerrado nestas palavras proféticas do jovem Mayer Garção. Não era outra a finalidade dos Endireitas militares que a monarquia andava buscando para partir a espinha aos republicanos portugueses que já começam então a pensar numa revolução capaz de destroçar a realeza. E o colonialismo luso finissecular, mesmo para estes republicanos que sonhavam com o Apocalipse, tinha um ponto comum, universal: a missão africanista, o nosso «white man's burden», era sagrada para os dois adversários em luta. Manter o império era, para todos - com excepção de uns quantos, raros, socialistas e uns quantos desgarrados anarquistas -, um imperativo ético nacional, ôntico: não lhes interessava democratizar, fazer uma política de realidade, à maneira do velho liberal Mouzinho da Silveira que dizia que se procurasse um novo Brasil no trabalho em vez de sonhar com novas aventuras coloniais. A geração portuguesa de 90 sonhava com uma África realmente nossa, salva de incorrigivel cobiça da (in)Fiel Aliada de sempre: uma África que seria assim uma espécie de apoio exterior que permitiria que Portugal fosse."
Bem... se bem o interpreto será aqui que quer chegar?: o militarismo das campanhas militares africanas ajudou a rebentar com os desígnios democráticos que a república pretendia a câmara de Lisboa ainda grava na memória um militarista monárquico anti-democrático? cumps
Muito obrigado pela sua excelente adenda. Não. A minha intervenção é muito mais prosaica. Conforme já escrevi muitas e muitas vezes, vivi em Moçambique (esse mesmo o de Chaimite , que aliás conheço) uma parte substancial da minha vida e recordo e recordarei com muita saudade essa terra que tantos amaram. Eram portugueses, eram colonos. Mas um dia um problema burocrático enfureceu alguns capitães que deixavam de progredir tão rapidamente como antes nas suas carreiras. O que aconteceu e porque aconteceu está para contar. O que não está para contar foi o pontapé que esses todos colonos levaram dos seus irmãos de nacionalidade. Ser assassino (como o activista que matou o agrário) era socialmente mais aceitável do que ser colono, retornado como então se dizia. Eram todos classificados ao nível dos antigos negreiros. Eu e muito como eu, nunca o esqueceremos, nem os esqueceremos. Foi por isso que me surpreendi com esta placa, será que o Doutor António Costa já a viu? Nem sei como é que escapou no PREC.
Ah, a sua questão é portanto sobre a falta de solidariedade dos portugueses de então para com os concidadãos, se bem percebo, durante o caos da descolonização. Imagino que, para quem tinha a vida construída lá, deva ter sido complicado ter que voltar e refazer tudo. É uma história que desconheço, tenho 38 anos e nasci e sempre vivi em Portugal. Curiosamente, penso na hipótese de ir para Angola ou Moçambique dar aulas ao nível do superior ou trabalhar nalguma Ong. Mas desconheço esses países. Se tiver alguma sugestão ou conselho, agradeço-lhe. cumps
Muito obrigado. Faça de conta que não lhe disse nada mas quando ouço alguém pensar em ir numa ONG para aqueles sítios só me lembro das voluntárias sul-coreanas no Afeganistão e das enfermeiras na Líbia.
6 comments:
Caro Fado,
Depois deste seu post fui consultar o Professor Medina (Medina, J., & al. (2004). A Monarquia Constitucional (I), A República (II). In J. Medina & al. (Eds.), História de Portugal - Dos Tempos Pré-Históricos aos Nossos Dias (Vol. XII, pp. 5-478). Lisboa: SAPE, Edita Clube
) e retirei isto:
p. 42
"Ao voltar Mouzinho de Albuquerque, aureolado das glórias africanas de ter prendido o chefe rebelde Gungunhana, um jovem jornalista perguntava em 1896: «Que significa este homem?» E respondia:
«Este homem significa tudo quanto é atraso, violação de direitos, espírito de opressão, conservantismo da iniqüidade, reacção do absurdo. Este homem é a Guerra, num dos seus aspectos
mais odiosos a Conquista». (Palavras dum jovem anarco-repu-blicano chamado Francisco Mayer Garção, que mais tarde escreveria
textos justificando a intervenção de Portugal para defender as suas colônias em África). E o texto lembrava ainda que os Portugueses
que saudavam o herói africano se deviam precatar: «Não nos enganemos, pois. O militar que aí vem de dominar o negro fica à bica para subjugar o cidadão» ('^). O destino ulterior de Portugal
p.43
estava de algum modo encerrado nestas palavras proféticas do jovem Mayer Garção. Não era outra a finalidade dos Endireitas militares que a monarquia andava buscando para partir a espinha aos republicanos portugueses que já começam então a pensar numa
revolução capaz de destroçar a realeza. E o colonialismo luso finissecular, mesmo para estes republicanos que sonhavam com o Apocalipse, tinha um ponto comum, universal: a missão africanista,
o nosso «white man's burden», era sagrada para os dois adversários
em luta. Manter o império era, para todos - com excepção de uns quantos, raros, socialistas e uns quantos desgarrados anarquistas
-, um imperativo ético nacional, ôntico: não lhes interessava democratizar, fazer uma política de realidade, à maneira
do velho liberal Mouzinho da Silveira que dizia que se procurasse um novo Brasil no trabalho em vez de sonhar com novas aventuras
coloniais. A geração portuguesa de 90 sonhava com uma África realmente
nossa, salva de incorrigivel cobiça da (in)Fiel Aliada
de sempre: uma África que seria assim uma espécie
de apoio exterior que permitiria que Portugal fosse."
Bem... se bem o interpreto será aqui que quer chegar?: o militarismo das campanhas militares africanas ajudou a rebentar com os desígnios democráticos que a república pretendia a câmara de Lisboa ainda grava na memória um militarista monárquico anti-democrático?
cumps
Muito obrigado pela sua excelente adenda.
Não.
A minha intervenção é muito mais prosaica.
Conforme já escrevi muitas e muitas vezes, vivi em Moçambique (esse mesmo o de Chaimite , que aliás conheço) uma parte substancial da minha vida e recordo e recordarei com muita saudade essa terra que tantos amaram.
Eram portugueses, eram colonos.
Mas um dia um problema burocrático enfureceu alguns capitães que deixavam de progredir tão rapidamente como antes nas suas carreiras.
O que aconteceu e porque aconteceu está para contar.
O que não está para contar foi o pontapé que esses todos colonos levaram dos seus irmãos de nacionalidade.
Ser assassino (como o activista que matou o agrário) era socialmente mais aceitável do que ser colono, retornado como então se dizia.
Eram todos classificados ao nível dos antigos negreiros.
Eu e muito como eu, nunca o esqueceremos, nem os esqueceremos.
Foi por isso que me surpreendi com esta placa, será que o Doutor António Costa já a viu?
Nem sei como é que escapou no PREC.
Ah, a sua questão é portanto sobre a falta de solidariedade dos portugueses de então para com os concidadãos, se bem percebo, durante o caos da descolonização. Imagino que, para quem tinha a vida construída lá, deva ter sido complicado ter que voltar e refazer tudo. É uma história que desconheço, tenho 38 anos e nasci e sempre vivi em Portugal. Curiosamente, penso na hipótese de ir para Angola ou Moçambique dar aulas ao nível do superior ou trabalhar nalguma Ong. Mas desconheço esses países. Se tiver alguma sugestão ou conselho, agradeço-lhe.
cumps
Muito obrigado.
Faça de conta que não lhe disse nada mas quando ouço alguém pensar em ir numa ONG para aqueles sítios só me lembro das voluntárias sul-coreanas no Afeganistão e das enfermeiras na Líbia.
Estará assim tão mau? É que como as coisas andam por este país, às vezes não sei o que será pior...
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