2 Sept 2014

Na morte, o modernismo

Houve um tempo em que quando morria um ente querido, especialmente em circunstâncias muito dramáticas, as pessoas choravam a sua dor em família com mais ou menos intensidade, conforme as próprias.
Hoje não é assim.
Se as pessoas envolvidas são aquilo que se denomina "personalidades" uma das coisas imediatas a fazer é transformar a sua privada dor em dor pública.
As próprias encarregam-se disso correndo para as ditas "redes sociais" onde, miraculosamente conseguem limpar as lágrimas e ver o teclado de onde saltam frases cheias de melodrama.
No facebook há coisas simplesmente aterradoras.
Quando da morte do Angélico atingiu-se níveis a roçar a histeria.
E claro, começam a aparecer os "likes" (uma suprema ironia) de quem também quer colher um bocadinho da fama.
Vejamos o caso de uma Mãe que perde um filho.

No dia da missa de sétimo dia acha-se de boa ideia publicar uma foto com a legenda

 "O meu Príncipe".

Uns dias depois acha-se forças para colocar um texto digno de uma página de ouro.
Vamos ler:

Meu Deus e meu Pai, desfeito em átomos de água partiu hoje para o teu infinito o filho que me deste.(...) E se vires que pode merecer alguma coisa a dor desta perda sem remédio, rogo-te, meu Pai que pronto me leves a vê-lo, que neste dia as saudades apertam mais ...

Custa a compreender que se tenha cabeça e ânimo para isto, mas como dizia o outro "Cada um é como cada um".

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