Só com o Mário Soares já dormiu em mais de cem hotéis.
Já almoçou com todo o Jet 7, 7,5 e mesmo 8.
Não há metro em que ela não tenha andado, o que dá sempre para interessantes crónicas porque ela, como aquele papel de apanhar moscas, apanha sempre um nativo com uma história muito interessante.
Mas o de Lisboa atrapalhou-a.
Aquele X vermelho ela não o conseguiu ver e quis entrar por onde se sai.
Por acaso é coisa que muitas fazem, e bem.
E desceu a Avenida.
Por azar desta vez escolheu com um cuidado extremo para passear, não as lojas de griffe de que ela tanto gosta mas os passeios contrários.
Deambulou.
E tropeçou imediatamente no São Jorge (que só enche nos festivais gay) com um passeio central cheio de sem-abrigo, vagabundo que à noite se alojam no vão do cinema (isto é Ela a pensar porque a cena passa-se de dia), um rapaz negro com sacos de supermercado (ainda eram de borla) e arrumadores.
E de repente deu-lhe a fome.
Passou por um quiosque fechado e entrou num restaurante com serviço e comida impecáveis.
Informa-nos que é um dos poisos favoritos para almoçar.
Esperta.
Confidencia-nos que o marisco deles é produto português.
Teve sorte.
O restaurante costuma estar cheio mas hoje porque convêm para a crónica está vazio.
E assim a coscuvilheira consegue ouvir uma conversa entre uns negros que ela suspeita serem Angolanos.
Estica mais um bocadinho pescoço e ouve falar de juros, rendimentos e aplicações.
Entre uma garfada de arroz e uma trinca na lagosta.
Desinteressa-se da conversa, afinal são só números e espanta-nos com avulsas considerações sobre o colonialismo (o nosso e agora o deles) e termina lembrando o Preto da Casa Africana.
Toma o café sai e, lá está.
Despede-se com um autógrafo desta anónima pessoa que olhava as montras com os lagostins e sobe a Avenida, um passeio par ajudar a digestão.
Má ideia.
Há edifícios inteiros vazios.
A sede do BES parece uma prisão.
Em frente ao Novo Banco, uns homens de fato (note-se este preciosismo) atiram beatas para o chão.
Há centenas de beatas no chão.
Muitas pedras soltas para variar.
Há lojas fechadas com papéis a tapar os vidros das montras.
As agências imobiliárias com caracteres chineses multiplicam-se.
Regresso a casa deprimida.
Ficamos tristes.
Pode ser que amanhã volte a descer a Avenida e entre na Fashion Clinic, onde é sobejamente conhecida.
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