11 Jan 2011

Renato Seabra

"Nós, os dois, éramos os artistas da sedução. Era o nosso hobby. .
É assim que um rapazola descreve outro rapazola cujo entretenimento decorria numa terriola chamada Cantanhede.
Mas como a ambição humana não tem limites o segundo achou que podia com um corpo um bocadito melhor do que normal fazer carreira.
E concorreu a um dos muitos programas que as televisões arranjam para criar ídolos.
Não ganhou mas lá conseguiu meter um bocadinho do pé no passeio da fama.
Que como se sabe sobe depressa á cabeça.

E veio para a cidade grande cheia de luzes e de pessoas que o podiam ajudar. Mas ele não sabia, coitado, que não há almoços grátis e aceitou almoçar, jantar e dormir com quem tinha as chaves do palheiro.
E começou a cometer erros.
O primeiro foi perder a cabeça e matar o mensageiro quando a mensagem já estava passada.
Não era muito grave podia tê-lo feito em Portugal e com a habitual modorra e complacência dos tribunais uma pequena pena ( a haver) seria cumprida por metade com inúmeras saídas precárias por "bom comportamento".
Mas por azar escolheu um país onde as Leis são para cumprir por duras que pareçam.

E este sim já foi um grande erro como ele vai perceber quando ao fim de dois ou três meses ( o tempo que por aqui demora a ser marcada a primeira instrução) já o drama esteja representado e encerrado.
E é neste momento quando chegar à prisão novo e apetitoso que ele vai perceber que como numa lógica de círculo o seu maior erro foi não ter tido êxito no corte de pulsos que tentou fazer e que devia ter feito antes de tudo isto.
Do Céu ao Inferno.