Morreu António Feio.
Era um actor que se especializou no género cómico criando personagens que resistirão ao tempo.
Numa delas mostrou o que de menor há em nós, a grunhice a ignorância o desprezo pelos outros enfim o cuspir para o chão.
Não era um papel difícil a ele como nós bastava ser real.
Quando soube da sua doença optou, legitimamente, por a publicitar em tudo o que era revista ou canal de televisão em vez de a sofrer em recato.
Folheie hoje o pasquim, trás em folhetim a cronologia da doença.
Vi aterrorizado o início do velório no Palácio Galveias onde são velados todos os artistas.
Cada vez que alguém importante se aproximava, como se fosse um evento social, dezenas de fotógrafos precipitavam-se para apanhar o melhor ângulo, e depois todos eram entrevistados.
E falavam debitando as banalidades do costume mas um aquele seu companheiro de 30 anos de palco depois de um discurso sem ponto lá disse sem pestanejar que há muito, muito tempo que o não via.
Na foto a família, onde a atitude discreta de uma pessoa evita o que podia ser a foto de um casamento.
Que se prestem a isto parece-me um bocadinho obsceno até talvez pornográfico.
1 comment:
Não diria tanto.
Não diria que fosse obsceno nem pornográfico. Mesmo com os imensos desequilibrios que a sociedade alimenta.
O que acrescento é que mesmo com flashes, o António Feio, deve mesmo estar-se borrifando para as revistas onde essas fotos vão ser publicadas.
É assim esta nossa existência.
Eu tenho 2 certezas apenas:
- Não sei quando vou morrer;
- Não sei de que maneira vai ser.
Tudo o resto é viver o melhor possível.
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