26 Jan 2008

O ilusionista


Quando José Sá Fernandes apareceu na política arrastava atrás de si a fama de cidadão militante. Era o advogado atento que, em nome do interesse comum, questionava poderes instalados, sobretudo na Câmara Municipal de Lisboa. Travou, por esse tempo, algumas batalhas corajosas e em função desse apreço até se fechou os olhos ao seu desgraçado papel na questão do embargo às obras do túnel do Marquês de Pombal, em Lisboa, que hoje é obviamente apreciado por todos os que têm de enfrentar o trânsito naquela zona da capital.

Integrado no Bloco de Esquerda, Sá Fernandes parece ter sucumbido à tentação da demagogia, como provou no recente debate sobre o tabaco no Prós e Contras, durante o qual recusou obstinadamente ouvir as explicações inteligentes e se entrincheirou no populismo que por estes dias vai condenando a ASAE e a Direcção-Geral de Saúde e suportando todos os descontentamentos ligados a uma pequena economia que não consegue elevar a qualidade do serviço para padrões europeus. E, assim, é vê-lo marchar em nome dos espaços sem condições, dos chouriços de qualidade duvidosa, dos queijos mal amanhados, etc., etc.

Por este andar, ainda o teremos a defender as sopas de cavalo cansado, a roupa-velha e outros petiscos do Portugal salazarento, pobre, sobrevivente. É uma opção. Mas será que ainda não se percebeu que a ASAE (com a nódoa do comportamento de António Nunes naquela noite no Casino Estoril) tem estado a cumprir a sua função, até a de alertar o Governo para o apoio que é urgente, e obrigatório, dar à modernização de um tecido económico mais ou menos familiar que não corresponde às normas exigidas no espaço da União Europeia? Temos de reconhecer, e por maioria de razões devem fazê-lo os políticos, que não é mais possível andar a reclamar fundos europeus para querer viver à moda de África.

João Marcelino in Diário de Notícias 26 de Janeiro de 2008

3 comments:

Anonymous said...

Não meta tudo no mesmo saco. A ASAE que vela pela higiene dos restaurantes e similares, que defende as prácticas comunmente aceites como justas, equilibradas e boas é precisa, é bem vinda e deve ser defendida. A ASAE que impõe disposições já de si absurdas e que se comporta mais papista do que o papa, que assumidamente pela voz do seu inspector-mor defende à priori o encerramento de portas de x restaurantes, que faz puro show-off nas suas inspecções com as máquinas fotográficas a disparar para tudo o que mexe e não mexe, que não sabe ou não quer responder às perguntas colocadas pelos responsáveis dos restaurantes no local e na hora da inspecção, que irrompe teatralmente pelo meio da sala e paralisa a cozinha durante a hora de almoço, etc, etc, essa ASAE arrogante, toda poderosa e insensata não é de todo bem vinda para o comum dos mortais. Mesmo com as costas quentes do engenheiro da Independente. Isto, claro, se vivessemos num país equilibrado e decente que não se confinasse, em matéria decisória, aos frequentadores dos Gambrinus, Conventuais, Bicas do Sapato ou outros assim.

Diogo said...

Os bares e as discotecas deviam ser livres de escolher se são espaços onde se pode fumar ou não. Quem preferisse uma discoteca de fumadores, ia. Quem não quisesse fumar, ia a uma de não-fumadores.

Não vejo o porquê do radicalismo. João Marcelino continua a besta quadrada a que já nos habituou.

fado alexandrino. said...

Muito obrigado.
Ausente, peço desculpa pelo atraso.
João Marcelino, penso, focava mais a personalidade extravagante de Sá Fernandes do que a ASAE.