1 Dec 2007

Vota Sim ou Sim


O grande romancista Miguel Sousa Tavares todos os dias nos surpreende com o enunciado de conceitos que, de tão simples, pareciam estar mesmo à vista de todos nós.
Mas não estavam, só estavam debaixo do seu clínico olho.
Hoje na sua crónica no expresso, abre a alma e conta-nos:


Na minha juventude, aconteceu-me trabalhar dois anos para o Estado, como consultor jurídico no gabinete do ministro da Educação….Mas, ao fim de um tempo, comecei a perceber como é que funcionava na prática o processo de decisão, ao nível do Estado…Os próprios destinatários das decisões nunca se conformavam, quando estas não satisfaziam as suas pretensões. ..E o “novo processo”, que eu já havia analisado e já fora decidido pelo ministro, aterrava-me outra vez em cima da mesa, obrigando-me a repetir o trabalho já feito.

Bem, não vale a pena estar para aqui a especular porque é que o cavaleiro mas límpido do torrão lusitano, aquele que vê iniquidades em todo o lado, demorou dois anos a perceber que estava a receber um salário que pagava uma produção igual a nada. Deve ser deste facto que o atormenta que ele, regularmente, atormenta todos os que são funcionários públicos.
O que interessa reter da sua crónica que é contra a regionalização, uma sua bandeira, é o seu conceito de eterno.
Escreve ele:


Vem isto a propósito do regresso à cena e ao discurso político dos apelos à regionalização. Para quem não se lembra, a regionalização foi derrotada por cerca de 65% dos portugueses consultados em referendo e, muito embora a votação tenha falhado por pouco a margem de 50% de votantes, que tornaria o referendo vinculativo para sempre, foi a mais participada de todas as consultas não-eleitorais. Tomara o Governo que um eventual referendo sobre a Constituição Europeia tivesse uma participação semelhante!

Veja-se este subtil discurso.
Num referendo em que, naturalmente, tomou posição, se a votação tivesse sido de acordo com os seus desejos o resultado era final, definitivo, eterno.
Não foi por não terem obtido o número mágico.
Ora Sousa Tavares, está desactualizado.

Nos referendos há muitas hipóteses de interpretar os resultados.
Por exemplo, neste último sobre o aborto, a votação do Sim não atingiu os patamares que eram necessários.
Não há problema.
O paizinho decide que vale o sim, sempre é melhor do que fazer referendo atrás de referendo até se atingir os números que o PCP e o Bloco de Esquerda queriam.
Obviamente que não passa pela cabeça de ninguém convocar outro referendo sobre o mesmo problema nos próximos cem anos.

Esta é uma ideia que o grande romancista apoia, de certeza absoluta.
Se está de acordo com os meus desejos, vale, se não está, faça-se outro e mais outro ou por outras palavras, se ganhei, deixemo-nos de falar sobre o assunto, ponto final.

2 comments:

Anonymous said...

Pois..
Fui a favor da Europa , até perceber que não passa agora de um posto adicional para os que saem da politca nacional ( veja-se o Durão , e mais se seguirão).
E também sou ( era?) fã da aproximação do poder aos cidadãos ,poder local , regionalização , etc. Parecia-me que assim os poderiamos vigiar mais.
Agora? O que acho? quanto menos estruturas , menos tachos.

fado alexandrino. said...

Absolutamente.
Regionalização, nunca.
Descentralização, para ontem.