4 Jul 2006

La France, demain

Se numa paragem de autocarro uma pessoa começar a olhar para o céu, instintivamente a maioria das pessoas que estão na mesma paragem olhará também.
E com um pouco de sorte até verão aquilo que o outro está a ver, ainda que ele nada veja.

E o que é que se está já a ver?
Pois muito bem, a extrema-direita francesa comandada pelo Le Pen

varrerá das avenidas os tugas que se atrevam a comemorar a vitória na Alemanha dos lusitanos sobre os mesmos franceses.
Mas será assim?

Há aqui também um problema que é a existência da novalíngua (como Orwell muito bem previu).
Deixou de haver negros. Passou a haver afro-europeus.
Os passadores de droga passaram a “oriundos de famílias desestruturadas”.
As empregadas de limpeza a auxiliares de educação escolar.
Os bandalhos, delinquentes e especialista de roubo por esticão até aos dez anos passaram a ser crianças em perigo, daí para a frente passaram a ser jovens.

Assim o que aconteceu em França com a célebre revolta dos subúrbios onde centenas de carros foram vandalizados passa a ser lido como:

“Perante a arrogância policial, um pequeno grupo de afro-europeus acompanhados de algumas crianças e jovens desestruturados revoltou-se contra a sociedade que não lhe arranja empregos”

Amanhã pode ser este o panorama.
Meter aqui Le Pen, é meter a cabeça na areia.

“Que fazem os nossos políticos, que fazem os nossos polícias, que fazem os nossos juízes?, interrogava-se o malogrado Christien Jen (em La guerre des rues – La violence et les “jeunes” – Plon 1999).

graças, em particular, aos homens competentes que estão à frente da segurança pública, os nossos dirigentes não podem ignorar a ameaça de caos que a pequena e média delinquência, as agressões e os motins urbanos fazem correr ao nosso país. Todavia, não retiraram daí quaisquer consequências”

in Tolerância Zero – Georges Fenech – Editorial Inquérito (2001)

1 comment:

Cristina said...

beijinho, fado...de fugida, b'noite.