O Expresso anda a fazer uns suplementos sobre os últimos
quarenta anos de Portugal e no referente aos anos 80 e para falar sobre cultura
escolheu a maior romancista portuguesa viva que aliás depois de morta vai
continuar a escrever outras brilhantes obras.
Não se diz o nome porque é de uma modéstia igual ao lado
oculto da Lua.A tal ponto que para parecer o que não é pintou o cabelo de loiro, sublime sacrifício.
Vamos lê-la.
Que posso dizer? Éramos felizes.
As mulheres e os homossexuais libertavam-se.Era pecado ser-se inculto.
Lisboa era a capital e fervilhava de cultura.
Os ciclos de cinema estavam à pinha e mendigavam-se os bilhetes.
Cada estreia transbordava para noites de vigília a discutir as vantagens de Rohmer e Kurosawa.
As livraria eram palcos de um teatro pessoal.
Havia a poesia e havia a noite e as duas encontravam-se no Bairro Alto e no Frágil.
Toda a gente todas as noites se encontrava por ali.
Fumava-se entre pratos.
Um dia fui almoçar ao Pap'Açorda com a Lydia Barloff a quem eu tinha dado uns conselhos jurídicos.
Na mesa ao lado Mário Soares conspirava e olhava divertido.
De dia alguns de nós trabalhavam.
Eu tornei-me famosa com um texto a deitar abaixo um dos "Diários" do intocável Torga.
Ter conhecido Cunhal, Sá Carneiro, Zenha foi um privilégio.
É isto.
Perguntarão, então os anos 80 da cultura resumem-se a uns
pequenos territórios de Lisboa?Sim.
Quando a madeixa loira cai sobre os olhos não se vê nada para os lados.
No comments:
Post a Comment