1 Dec 2011

Retrato do artista quando jovem


Pedro Tadeu é talvez o único cronista honrado em Portugal.
Declarou publicamente que é funcionário do PCP e que levassem isso em linha de conta quando o lessem.
Também é um homem azarado.

Foi fazer comprar ao hipermercado (então esse comércio de rua, seu maroto!) e no parque de estacionamento foi abordado por uma rapariga de trinta anos que lhe pedia apenas "Pão", disse ela, "dê-me pão".
Deu.

Dias depois vai visitar um amigo ao hospital (outro azar) e zás logo no corredor tropeça com outro amigo que está desempregado há sete anos e que lhe conta tudo o que de mau lhe tem acontecido.
E assim já eram três no hospital a lamentarem-se.

Mas um homem precisa de sobreviver e Tadeu vai almoçar no domingo com outro amigo (se almoçasse em casa já podia dar um bocadinho de conduto à rapariga do supermercado) e pasme-se gente não é que ao café o amigo lhe faz um pedido "precisava de dinheiro emprestado, não muito, só o suficiente para resolver este mês um atraso no pagamento da escola dos filhos... "Isto está mau. Até já cortei a Sport TV, vê lá tu, nem vi o Benfica-Sporting", parodiou.".

E como não há mal que não se multiplique no início da semana ao entrar no emprego vê um vizinho na bicha para com os papéis na mão aceder ao passe social dos pobrezinhos.
Aqui há gato.
Ou o vizinho faz uma vida de fachada que não corresponde aquilo que realmente ganha (lá estão as malditas duzentas prestações) ou leva uns papeis falsificados.

Também pode acontecer que toda a crónica  tenha sido falsificada.


6 comments:

Zebedeu Flautista said...

Coitado do Tadeu...deve andar sempre deprimido.
Eu se fosse a ele nem saia de casa. Com essa maravilha da internet inventada pela URSS pode enviar pela net as crónicas e fazer as compras nos hipers online.

João Marçalo said...
This comment has been removed by the author.
João Marçalo said...

Fazer chacota da pobreza que grassa hoje em dia em Portugal não me parece ser de bom Cristão.
Votos de um Santo Natal e que nunca lhe falte o pão na mesa a si e aos seus.

fado alexandrino. said...

Obrigado.
Fui mal interpretado não é nem foi ideia brincar com a miséria alheia mas tão somente lembrar que muitas histórias não passam de estórias.
Desejo-lhe o mesmo a si.

João Marçalo said...

De facto há algumas "pobrezas" mal contadas, concordo consigo.
Por exemplo na questão do aumento do IVA na restauração.
Anos de anos de fuga aos impostos, a vender almoços e a registar cafés, contas feitas à mão em guardanapos de papel, a placa eternamente a dizer "Multibanco fora de serviço"...
Não me contaram, vi em vários sítios e durante muitos anos...
Enfim... Se calhar temos o país que temos porque é o que merecemos.
Cumprimentos,

Anonymous said...

Muito bom post. Eu só tropeçou em fado-alexandrino.blogspot.com e queria dizer que eu tenho realmente gostei de navegar seus posts. Afinal de contas eu vou estar assinando o seu feed rss e eu espero que você escreva novamente em breve!