O japonês Ryuichi Sakamoto é capaz do melhor e do pior. Em 1996 esteve no seu melhor. Para tal bastaram um piano, um violino e um violoncelista exímio: Jacques Morelenbaum. Basta ouvir o tema 1919 para o comprovar. Neste álbum, Sakamoto recupera algumas composições escritas para filmes como The Last Emperor ou Merry Christmas Mr. Lawrence. Os arranjos são simples, oferecem-nos uma música despojada de efeitos sonoros artificiais e concentrada na orgânica de três instrumentos base. Os elementos adicionados em dois ou três temas são excepções a confirmar a regra. Como é óbvio, em 15 temas o tom geral é algo volátil. Mas mesmo quando as composições ameaçam resvalar para pinturas trágicas ou épicas, mesmo quando percorrem dedáleos e sombrios recantos, provocando uma ansiedade tipicamente cinematográfica, a melancolia e a introspecção tomam conta dos ambientes. Alguns temas remetem para paisagens ruinosas, um só corpo caminhando para um insidioso porto de abrigo, uma jaula, uma condenação. A perspectiva não sublinha qualquer dimensão elegíaca no decorrer do percurso, limita-se a olhar desencantadamente sobre os silvados, as casas abandonadas, os insectos que se atravessam no caminho permitindo à vida marcar presença. E depois olha para trás buscando as pegadas que levaram o corpo ao ponto onde se encontra, para daí perceber a impossibilidade do regresso, a irreparabilidade dos sonhos perdidos, depostos, entregues à sua fatal condição onírica.
Retirado daqui Donwload
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